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Foto do escritorThiago Char - Administrador EduCAP

Aprendendo a ser montanhista com o Clube Alpino …

por Pedro Jose Sibahi


Até poucas semanas atrás, minha experiência mais aventureira havia sido um acampamento em Ilha Grande (RJ), com direito a uns 20 quilômetros de trilha. Apesar de quase sempre ter praticado algum esporte, e adorar um passeio pelo mato, nunca tinha feito um curso de montanhismo propriamente dito. Nas últimas semanas finalmente comecei a preencher essa lacuna na minha formação, comparecendo ao Curso Básico de Montanhismo do Clube Alpino Paulista (CAP). Para quem não conhece o clube, ele é uma das entidades mais tradicionais de montanhismo no país.

Fundado em 1959 pelo italiano Domingos Giobbi, o CAP segue o modelo dos clubes alpinos europeus, e já teve mais de 1.000 sócios. Foi lá que nasceu a primeira Escola de Guias do Brasil, que até hoje continua em atividade.


Aulas A edição 2012 do curso de montanhismo começou no dia 4 de abril (sempre às quartas-feiras), com uma aula legitimamente filosófica, feita por Fábio Cascino. Entre debates sobre o que é montanhismo e o que leva às pessoas a aventuras que arriscam a própria vida, alunos e professor chegaram no consenso de que todos ali buscam fugir do cotidiano na cidade.


A segunda aula foi um risco para os aficionados em compras. Os instrutores Marcelo Belo e Sylvio Jr. Mostraram todo tipo de equipamento, básico e avançado, que um montanhista precisa comprar, mais os opcionais.


Pudemos aprender os conceitos sobre equipamentos como botas, capacetes, anoraques e fleeces, até casacos de pena de ganso, luvas de gore-tex e outros itens que aumentam o conforto em grandes altitudes.


Na última aula antes da primeira saída, o foco foi a Declaração de Tirol. Renato “Kbelo”, explicou os principais artigos do documento, sempre ressaltando as preocupações éticas que todo montanhista deve ter.


Para finalizar, uma pequena explicação sobre o programa Pega Leve, com indicações práticas sobre como prejudicar menos a natureza: recolher todo o lixo, fazer as necessidades fisiológicas longe de cursos de água, não retirar plantas, entre outras.

Vista durante a subida do Pico dos Marins, em um dos raros momentos sem chuva

Primeira expedição A primeira saída do curso, marcada para o dia 21 de abril, deveria ser para as cavernas do Parque Estadual Intervales. Infelizmente, por conta de restrições da administração, que só permitiu visitas dentro de um roteiro pré-definido, os planos foram alterados.


A expedição foi remarcada para o Pico dos Marins (2.420 metros de altitude), no município de Piquete, norte de São Paulo. O grupo de 15 pessoas, sendo 12 alunos e 3 guias (Naiche, Michele e Yoshimi), estava preparado para subir a montanha, acampar próximo ao topo e descer no dia seguinte, mas os planos mudaram drasticamente ao longo do dia.


A saída, marcada para as 6h, acabou sendo adiada para as 8h, por conta da chuva. Mesmo com esse imprevisto (a expectativa era de precipitações apenas no domingo), começamos a subida animados, apesar das mochilas cargueiras com 15 quilos, em média.


O longo trajeto até o cume, com ascensão de aproximadamente 400 metros, durou 7 horas de caminhada. O percurso tinha alguns trechos mais técnicos, que todos transpuseram sem grandes problemas, apesar de que uma das alunas sofrer um pouco com cãibra na coxa. Nesse meio tempo o clima se manteve estável, com uma garoa intermitente que nos acompanhou em quase todo o caminho.


Quando já eram 15h, na última escalaminhada em direção ao platô onde acamparíamos, ao lado do cume já estávamos completamente molhados. Para piorar, o vento, o frio e a chuva se intensificaram. Quando chegamos e começamos a montar as barracas, mais um agravante: alguns alunos, e até mesmo dois guias, começaram a ter princípio de hipotermia.


Depois que três barracas quebraram com o vento, não sobrou dúvida, Naiche, o líder dos guias, decidiu que voltaríamos à base, mesmo com risco de chegar durante a noite.

A volta foi mais longa que a subida, com muito mais dificuldade nos trechos técnicos, por conta da água e do cansaço. Além disso, escureceu quando o grupo ainda estava na metade do caminho, dificultando bastante o trabalho de localização.


Enfim, quase 15 horas depois da partida, fomos chegando em blocos. Os primeiros terminaram a trilha às 23h, mas os últimos, incluindo a menina que estava com cãibras e teve algumas escoriações, chegaram apenas à 1h da manhã.


Eu, que cheguei entre os primeiros, estava acabado. Minha primeira reação foi sentar em um degrau e ficar imobilizado por uns 15 minutos. Depois, nem banhou tomei. Tomei um cappuccino quente, troquei de roupa, peguei uma bermuda emprestada, porque esqueci a troca de roupa, e fui dormir.


No dia seguinte, com todos em melhor situação, tomamos café da manhã e tivemos uma longa avaliação sobre a saída. Para alguns alunos, experiência difícil faz parte das expedições, mas outros sentiram que faltou cuidado com a segurança, ou que a saída foi dura demais para iniciantes.


No final, muitas divergências sobre o início no montanhismo foram colocadas na roda, o que aparentemente acrescentou bastante para todos. Eu, da minha parte, tenho certeza que quero continuar no esporte, e mal posso esperar o próximo perrengue.


2 de maio de 2012

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